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SEU, JORGE RASKOLNIKOV
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
terça-feira, 1 de outubro de 2019
OFERENDAS (Contos de terror)
Valdo
achou uma afronta aquelas coisas diante da porta de sua nova casa. E não era um
despacho
qualquer, aliás, não era nem mesmo um despacho. Em comum com o que
conhecia, apenas as velas. No meio da coisa havia uma caveira de gesso, flores,
pequenos recipientes de vidro, cruzes estranhas e papéis com uma caligrafia
estranha. Antes de comprar a casa, Valdo tinha ouvido por um amigo que por ali
existia uma religião satânica. No momento, ele pensou que se tratava de alguma
coisa de adolescentes que se limitava a pichações, mas pelo visto a molecada
ali era mais ousada. Ele chutou as coisas maldizendo quem quer que tivesse
feito aquilo. Um dos recipientes se rompeu e um líquido vermelho sujou seus pés
e a calçada. Sangue? Bem, não importava. De qualquer maneira era uma decepção
que naquela cidade, que não era metrópole, tivesse essas coisas. O amigo que
lhe dissera que por ali havia uma religião estranha, também dissera que aquele
município era cheio de coisas toscas e pavorosas. O que exatamente, ele não
disse. Mas Valdo também não quisera saber. Entrou em casa e tratou de esquecer
o assunto. Mas teve pesadelos durante a noite e no dia seguinte se sentiu
doente. Voltou para casa se sentindo péssimo. Tomou banho, pediu comida e lá
pelas nove da noite se sentou diante da TV com uma xícara de chá nas mãos.
Ouviu batidas na porta da frente. Foi lá, mas não havia ninguém. Iniciou-se ali
seu verdadeiro calvário. Toda vez que se sentou de frente a TV, as batidas na
porta recomeçavam. Chegou a sair na rua, xingando quem quer que estivesse
fazendo aquilo. Ameaçou chamar a polícia em alta voz, mas as perturbações
continuavam. Começou a se sentir com febre e a se sentir observado. Desmaiou e
quando acordou caído no meio da sala, teve certeza de que alguém estava dentro
de casa. Olhou em direção à porta da frente e viu três espaços de luz vindo da
fresta embaixo da porta. Algo dividia a luz, duas coisas que não estavam lá
antes. Que se moveram... Pés? Sim, dois enormes pés e Valdo sentiu um calafrio
terrível. Um ser enorme ao qual podia ver apenas o contorno na escuridão, vindo
em direção a ele. Podia sentir a respiração daquela coisa e seus passos lentos
faziam parte do seu terror. O que ele devia fazer? Se levantar e correr? Óbvio,
mas se sentiu paralisado como o personagem estúpido de um filme de terror B.
Fez um esforço, porém ao se erguer um tanto, o monstro correu, o alcançou em
três segundos e o chutou no peito. A dor lancinante também tirou seu ar e ele
foi arremessado ao ar alguns centímetros. Caiu no chão, arquejante, pensando
que era o seu fim. Se a besta o chutasse mais, ele morreria. Tinha certeza. A
coisa se aproximou. Tinha uma cabeçorra enorme, redonda e descarnada, quase uma
caveira... Soltou um urro e Valdo afundou numa inconsciência bem-vinda. Mesmo
que fosse a morte... Mas ele não morreu. Acordou no outro dia e foi ao médico.
Tinha três costelas quebradas. Voltou para casa temeroso. Abriu a porta
devagar, o coração aos pulos... E então viu o chão coberto de caveiras de
gesso, flores, velas, cruzes, recipientes. Uma semana depois reparou em
pichações na parede de uma rua próxima, o desenho estilizado de uma criatura, de
cabeça enorme de caveira, corpo longo, pés largos e mãos longas! Embaixo havia
escrito: NECROI VIVE!
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