É
fato perceptível que as lendas assustadoras se misturem e deem origem a novos pavores,
as vezes
bastante refinados e ainda mais terríveis. George Alves Oliveira, mais
conhecido como George Gore ou Gigi, foi um maníaco assassino que matou cinco
viciados e os enterrou em sua propriedade. O matador teria sido supostamente
morto pela polícia, mas algum tempo depois, crimes semelhantes aos que ele
praticara voltaram a acontecer. Alguns acusaram a polícia de mentir, outros que
o maníaco tinha voltado dos mortos. Especulações à parte, as autoridades não
conseguiram esclarecer esses novos crimes. Histórias sobre o célebre matador se
tornaram populares. Algumas exaltavam sua imortalidade, outras se concentravam na
admiração por ele estar vivo e simplesmente desafiando a polícia. Muitos
relatos o responsabilizavam por inúmeros outros assassinatos – mesmo que
houvesse quem os assumisse. O conhecimento de Gore sobre a vida de outros
matadores era sua peculiaridade. Todos que o conheceram ouviram suas descrições
detalhadas de assassinos famosos. Aliás, ele parecia não ter outro assunto,
disseram as pessoas das quais se aproximara. Não fosse para falar de serial
killers famosos, George ficava calado com olhar desconfiado. Às vezes parecia
que as pessoas se divertiam com as histórias sobre George Gore e demonstravam
certo orgulho em viver no seu bairro ou ter tido contato com pessoas que
conviveram com o maníaco. Isso continua até hoje e outras narrativas se
multiplicam. Há quem diga que à meia noite, quem para diante do terreno baldio
onde ficava a casa George Gore, pode ver seu espectro andando por entre a relva
que lá cresce. Dizem também que ele aparece no espelho para quem chama seu nome
três vezes segurando uma vela, à meia noite, à exemplo de Bloody Mary. Outros
censuram isso dizendo que Gore está em fuga ou vivendo escondido e, claro, há
quem ria disso tudo advertindo que o sujeito está enterrado num túmulo genérico
fornecido pelo estado. Ultimamente os ânimos se exaltaram com três crimes
semelhantes aos cometido pelo famoso matador. O caso aconteceu numa cidade
vizinha, ainda assim, o nome de George Gore foi devidamente associado. O mais
insano foi que no último crime, o assassino escreveu na parede as iniciais G.G.
com o sangue da vítima. Muito se especula enquanto a polícia promete esclarecer
o caso e trazer o criminoso ou criminosos à justiça. As lendas em torno de
George Gore parecem nunca ter fim assim como suas variações. Mas isso
certamente não passa das peculiaridades das lendas assustadoras.quarta-feira, 31 de julho de 2019
sexta-feira, 26 de julho de 2019
O LOUCO E O MUNDO (Conto de terror)
Ele olhou para a
imagem da multidão na TV e sua expressão pareceu de contentamento. A turba
enlouquecida pedia sangue. Ele provavelmente adoraria fazer parte daquela
multidão. Adorava essas coisas descontroladas, o impasse antes de uma
precipitação inevitável. Era muito excitante. Ficou torcendo para que alguma
coisa acontecesse. O povo gritava tão alto que fazia vibrar o chão sob seus
pés. Ou era impressão sua? Olhou para os homens ao seu redor e fez sinal
indicando que queria fumar. Um deles o olhou com desprezo como se dissesse que
era muita pretensão de sua parte. Outro, que parecia mandar nos demais,
minimizou as coisas. Acendeu ele mesmo um cigarro para si e entregou outro
cigarro para o sujeito. Abriu uma das janelas e fez um gesto largo para os
demais como se dissesse que tudo estava resolvido. Ele ficou fumando e perdeu
interesse nas imagens da televisão. Alguém aproximou dele um copo descartável
com água para usar como cinzeiro. Ficou fumando e relaxando, pensando em como
seria os próximos passos. Como seria recebido. Bem, provavelmente não seria com
flores e abraços, entretanto isso não o preocupava. Sabia exatamente como as
coisas funcionavam. Não tinha do que se lamentar. Se não morresse logo, se
adaptaria. Afinal, vivera uma vida de adaptação desde que se entendia por
gente. Era oriundo de um mundo miserável e obscuro, completamente rodeado de
violências e barbáries. Não importava nada. As cosias não tinham esse valor
todo que as pessoas atribuíam. Nem mesmo a vida tinha valor. Tudo era uma
supervalorização de quem tinha medo de tudo ou vivia abastado sem ter que lidar
com os pavores da vida. Ele não. Sua família o preparara bem. Seu pai
principalmente. Ainda mais porque agredia todo mundo dentro de casa desde
sempre. Um dia levou a pior quando ele e seu irmão mais velho o enxotaram de
casa. Era demais ver a mãe, por mais que fosse uma simples velha ranzinza e
bêbada, apanhando sem conseguir sequer levantar as mãos. Depois nunca mais viu
o pai. Melhor assim. Adentrou ao mundo louco, sozinho e não podia dizer que
tinha fracassado. Vivera livre, praticando sua própria loucura. Sim, ele achava
que era meio doido, assim como todo mundo. Era a coisa mais óbvia! Todos tinham
algum tipo de loucura e se forçava a escondê-la. Bem, alguns não. Como ele.
Tinha aceitado tudo, toda podridão do mundo, todas as adversidades e coisas que
as pessoas fingiam não existir. Nesse mundo e no outro. E no invisível onde
transitavam os mortos. Como bem explicara a avó, especialista em contar
histórias de assombração sob a luz da lamparina, com os olhos brilhantes, quase
todas as noites. Gostava sobretudo das histórias de matadores e da descrição de
defuntos podres e mutilados, escondidos por assassinos. Ele acreditava em um
mal maior no mundo, que dominava. Esse era forte, não o deus choroso dos
cristãos. E ele queria estar do lado dos fortes. Mesmo que se arrebentasse.
Tomou para si tudo que quis. Dinheiro, bebidas, drogas, mulheres, homens... A
vida daquelas crianças! Tinha degolado os três, escondido seus corpos.
Infelizmente a polícia o tinha pego. Agora estava ali naquela delegacia, a
multidão lá fora querendo linchá-lo, podia ver pela TV. Esperavam que o esquema
de segurança lá fora fosse reforçado para que ele fosse transferido. Tudo bem.
As coisas estavam em paz. Era a loucura do mundo e ele aceitava tudo
tranquilamente desde sempre.
terça-feira, 23 de julho de 2019
O MUNICÍPIO ASSOMBRADO (Conto de terror)
Dizem
que o município de Queimados – não confundir com Queimadas – é assombrado.
Obviamente
que algumas pessoas não o creem, mas há um consenso bem difundido,
principalmente entre os mais velhos de que Queimados é um lugar onde se
manifestam fantasmas e outras coisas inexplicáveis. Não se trata de uma simples
casa, rua ou localidade, mas todos seus distritos – alguns enormes – que se
estendem do sertão ao litoral. Histórias sobrenaturais superabundam por toda
parte e, misturados a uma crescente violência urbana, acabam criando novas
narrativas de puro horror. Existem casos antigos como o do Padre sem cabeça que
anda pela beira da praia; a da mulher bela que seduz incautos na madrugada e
logo depois mostra sua verdadeira face terrivelmente mutilada; o grupo de
crianças fantasmas que surge pedindo dinheiro para quem ouse atravessar as
largas ruas vazias durante a noite e a premonitória imagem do funeral. Este
último se tratava da visão terrível de um velório que surgia nas esquinas e
vaticinava o fim do infeliz que a encontrava. Essas histórias têm semelhantes
em várias regiões do nordeste brasileiro e hoje, na maioria dos lugares,
constituem apenas histórias que avós contavam para assustar as crianças. A diferença
em Queimados é que estas narrativas se renovam, se mesclam a novas relatos
incríveis e misteriosos. Um exemplo é o de quatro homens encontrados mortos na
areia da praia, as cabeças decepadas e ausentes. Havia um enorme crucifixo no
local, mas alguns, ao invés de considerar um terrível acerto entre bandidos,
achou mais lógico atribuir tudo ao Padre sem cabeça. Em outro caso, um sujeito
se disse atacado pela bela que depois revela seu rosto desfigurado, chocando a
vítima com uma imagem de puro horror, capaz de fazer desmaiar qualquer um. Seus
amigos concordaram que o colega preferia aquela história a de que ele fora
simplesmente enganado e roubado por uma mulher da vida. E assim seguem as
lendas urbanas – e um tanto rurais - em Queimados com inúmeras casas mal-assombradas
e descampados que inspiram pavores. A realidade é que naquela localidade sempre
houve muita violência. Dizem que o embate de índios e homens brancos foi
terrível. E ocorreu durante anos. Inúmeros mortos e maus tratos aos indígenas
que ultrapassam qualquer tema de filme assustador. Um historiador afirmou uma
vez que os mestiços de brancos com índios naquela localização, são legítimos
descendentes de estupros em massa. Toda a atividade fantasmagórica,
supostamente, seria resultado de uma maldição oriunda dos massacres. Mas há
também quem fale de rituais terríveis envolvendo sacrifícios humanos e nada
oriundo da parte dos selvícolas. Falam que o homem branco, nos tempos da corte
portuguesa, teria trazido do velho mundo a velha bruxaria adicionada às suas
grandes ambições. Seja como for, as histórias pavorosas continuam, não parecem
ceder ante a modernidade. As possibilidades são claras: ou se trata de um
município assombrado por causa dos terríveis crimes ou esses crimes se
multiplicaram por assombros autônomos. O mais aceito no entanto, é que os dois
coexistam com um alimentando outro, verdadeira natureza dos lugares
assombrados, dizem...sexta-feira, 19 de julho de 2019
XXX (Conto de terror)
Alguma
coisa era assombrada... Ou o bairro ou sua casa! Ele pensou. Estava certo
disso. Vivia ali há
apenas duas semanas, mas essa cogitação era fato.
Assombrações! Naquela residência ou no bairro todo. Tinha falado para a irmã,
mas ela não acreditou. Jonas não se achava exagerado e muito menos
supersticioso, mas tudo tinha limite. Ouvia e via coisas terríveis naquele
lugar. Não queria vislumbrar mundos sobrenaturais, não queria acreditar em
outras realidades, não se importava com daquilo, entretanto não podia negar a realidade.
Todas aquelas coisas absurdas estavam diante dele. No começo fora muito
aterrador. Como na vez em que ouviu passos no corredor, passos pesados, muito
diferente da maneira que a irmã caminhava. Foi olhar. Levou o maior susto da
vida. Uma mulher alta, velha e horrível o contemplava perto das escadas. Tinha
asas de borboleta, pura imagem oriunda de um quadro de Dali. Ou seria um quadro
do Bosch? Não importava. Ele duvidou dos próprios olhos e esperou que aquilo
sumisse, mas não o fez. A velha alada veio em sua direção, ele fechou a porta
do quarto e correu até a cama como uma criança assustada. Os passos continuaram
o resto da noite, mas ele não teve mais coragem de abrir a porta para espiar.
Ficou pensando que era algo de sua mente, que estava impressionado como dizia
sua mãe se referindo ao medo que nós mesmos criamos. Depois vieram os rostos
horríveis que surgiam nos cantos e que só tinham boca e dentes pontiagudos.
Muitos outros barulhos e o terrível desfile de animais com rostos humanos que
se estendiam da sua sala de estar até a rua. Que imagem mais tenebrosa e
bizarra. Estava vendo TV, tranquilo quando a fila de bestas meio humanos
invadiu sua casa. Por uma hora completa elas ficaram ali, entrando e saindo, o
observando com expressão zangada. Não podia ignorar mais aquilo. Lembrou da
frase de Shakespeare em Hamlet: Há mais coisas entres o céu e a terra do que
sonha nossa vã filosofia! Não era exagerado, muito menos supersticioso, mas era
hora de admitir que estava cercado de assombrações, terrores vindo de outro
mundo. Numa manhã falou para a irmã, mas não diretamente, apenas perguntou:
Você não acha nada estranho nessa casa? Ela disse que só ouvia muitos barulhos
estranhos à noite, pouco antes de dormir, mas tudo bem, era uma casa velha.
Jonas compreendeu. Ela tomava remédios pesados para dormir, só ouvia o início
da festa dos fantasmas. Era uma mulher de meia idade que nunca tivera marido e
filhos e amarga por isso. Nem todo mundo podia ser como ele, solteiro e feliz.
Ele era o mais velho de cinco irmãos, resignado com tudo, ela, a caçula,
solitária e zangada por morar com o irmão. Ele entendia, todavia, não
concordava. Resolveu não falar mais sobre as assombrações. Descobriria sozinho
as razões daquilo. Se os fantasmas eram oriundos da casa ou do bairro. Arranjou
uns livros sobre assombração e se debruçou sobre eles. Colocou uns crucifixos
na parede e acendeu várias velas no seu quarto. Achou que a irmã estivesse
protegida pelo sono profundo e não se preocupou mais. O problema foi que as
coisas se complicaram. A multidão de aparições aumentou e passou a não deixar
que ele dormisse. Batiam na porta do quarto a noite toda, enfiavam dedos
pontiagudos no formato de sombra por baixo da porta. Um dia, uma criatura
semelhante a um enorme rato pulou na cama junto com ele, tentou mordê-lo,
desesperado ele sacudiu o lençol que atingiu as velas sobre o criado mudo.
Começou um incêndio. Ele correu em direção à porta, mas se deparou com toda uma
nova infinidade de duendes, regressou, pegou uma barra de ferro para se
defender. O fogo foi aumentando e ele não tinha como sair, lutando contra
aquelas criaturas. A fumaça tomou conta do ambiente, ele bracejava para todos
os lados tentando acertar seus perseguidores, sair dali, mas foi perdendo as
forças e...
Quando deu por si, estava numa
ambulância, as portas abertas, podia ver um pouco de sua rua, a calçada...
luzes vermelhas? Um caminhão do corpo de bombeiros, curiosos... Sua irmã e uns
atendentes ao seu lado. Tá tudo bem agora, Jonas, fique calmo... Você engoliu
muita fumaça, ela falou. Ele tentou falar, mas não conseguiu, a garganta doía.
Ela explicou que o estrago tinha sido pouco, os bombeiros tinham chegado há
tempo. Ele finalmente conseguiu falar, disse que a culpa era das assombrações.
A irmã pediu que ele relaxasse. O atendeu colocou a máscara no rosto dele de
novo. O veículo se pôs em movimento. Tá tudo bem, moço, falou para o
socorrista. É que meu irmão tem esquizofrenia... Eu cuido dele há anos.
terça-feira, 16 de julho de 2019
ONDE OS PAVORES DORMEM (Conto de terror)
Era um bairro
estranho e obscuro, em uma cidade estranha e obscura. Fazia parte da região
metropolitana da capital e seu misto de campo, cidade litorânea e características
urbanas, lhe dava um ar único. Era um município enorme, de largos campos e
terrenos descampados entre as casas. Algo que proporcionava ruas desertas,
escuras e silenciosas demais. Parte da natureza exuberante era preservada entre
os conjuntos habitacionais, característica que produzia tanto bem-estar quanto
espanto. Havia industrias, mansões e incríveis resorts ao longo da enorme faixa
litorânea, sofisticação e simplicidade em um só lugar, fato que encantava muita
gente, mas a mim, só causava estranheza. O grande contraste tornava o lugar
estranho, sem identidade ou, talvez, bastante identificado com uma coisa
desproporcional e de muitas faces. Acabei indo morar no município por questões
profissionais e confesso que temi o lugar desde o primeiro dia. Minha esposa
tinha opinião semelhante à minha, mas sua natureza tranquila, certamente a
impedia de emitir juízos maiores. Preferiu dizer que a falta de agitação da
nossa nova moradia proporcionava tranquilidade para realizar seu ofício de
escrever. Outra coisa que me incomodava também era o caminho de volta. Vinha do
trabalho por volta das sete da noite e, já ao deixar a avenida e tomar a rua de
nossa casa, eu experimentava uma profunda melancolia. Havia até algo de belo no
caminho, confesso. Era uma rua de terra, cercada de árvores e casas de muros
altos com um cheiro adocicado de mato que, de dia era repleto de sons de
pássaros, e a noite dominada pelo som de cigarras e grilos. Havia até mesmo um
terreno com um pequeno córrego onde se podia ouvir ao longe, o coaxar de
batráquios. Mas todo esse clima bucólico não desfazia um espanto e tristeza
escondidos que eu não podia evitar. A coisa piorava ainda mais quando eu vinha
de transporte público, descia na avenida e seguia a pé pela rua. Em um dos
primeiros dias, tive a certeza de ver algo pavoroso: uma silhueta de homem que
caminhava à minha frente simplesmente sumiu. Eu andava devagar quando vi a
forma humana diante de mim uns quarenta metros. Obviamente que pensei se tratar
de um transeunte, mas, observando-o, vi-o se desvanecer diante dos meus olhos. Lembro
que meus pés pesaram no momento em que pensei em passar no local onde ele havia
sumido. Corri até em casa, temeroso, mesmo achando que pudesse ter sido apenas
vítima de um efeito ótico ou truque da mente. Não contei nada à minha esposa,
entretanto, acabamos por comentar sobre certo clima opressivo sempre presente
naquele lugar. Era uma espécie de tranquilidade abissal que devia ser comum em cemitérios
e lugares onde alguma desgraça tinha acontecido. Glória me falou de uma casa
assombrada que havia no seu bairro quando ela era criança. Dizia que havia mato
na calçada e até mesmo em parte da rua onde a residência se encontrava. Em dias
e noites silenciosas e tristes, se podia ver espectros nas janelas para quem
ousasse olhar. Ela me falou que a sensação que tinha diante da casa era semelhante
ao que ela sentia quando estava sozinha na nossa nova moradia. Perguntei se ela
tinha medo e ela disse que não o suficiente para que quisesse mudar. E repetia
que a maioria das nossas impressões era coisa da nossa cabeça. As coisas
continuaram reduzidas a estas impressões, pelo menos até dezembro quando,
semelhante ao espectro que vi na rua, coisas começaram a surgir e desaparecer diante
dos meus olhos. De início eram apenas a sensação de presenças e olhares que me
espreitavam, depois comecei a ver, pela visão periférica, rostos sombrios.
Também ouvia passos e barulhos inexplicáveis. Falei para Glória e ela se
surpreendeu. Disse que só tinha as mesmas sensações de antes. Porém uma noite, a
caminho de casa, recebi uma ligação dela querendo saber onde eu estava.
Respondi e ela pediu que eu me apressasse. Cheguei em casa e a encontrei
transtornada, dizendo que ouvira vozes, passos e que estava aterrorizada. Ao
saber do ocorrido, uma amiga de minha mulher, que dizia ser espirita veio até a
nossa casa e fez intervenções. Disse que descobrira que não só o bairro, mas a
cidade inteira tinha sido palco de coisas terríveis e que isso o deixava repleto
de espíritos errantes e sujeito a malassombros diversos. As coisas ficaram mais
tranquilas e em semanas ficamos tão longe das más impressões que resolvemos
construir uma piscina em nosso terreno lateral. Na noite em que as obras se
iniciaram, houve uma sucessão de espantos terríveis. Passos, cochichos e uma
sensação apavorante tomou conta de nossa casa a ponto de mal conseguirmos dormir.
Pela manhã, já nas primeiras luzes do dia, despertei de um cochilo com gritos
de minha esposa. Ela dissera que no nosso quarto, diante de seus olhos, surgira
um grupo de homens estranhos que tinham sumido quando ela gritou. Não fui
trabalhar naquela manhã e fiquei vendo os homens construindo a piscina, me
juntando a eles em profundo pavor, quando uma quantidade de esqueletos foi
encontrada sob nosso terreno. Veio a polícia e chegaram à conclusão que aquele
terreno fora lugar de uma chacina. Que os restos mortais estavam ali a uns
cinco ou seis anos. Minha esposa e eu concluímos ser aquela a razão das
assombrações, todavia uma semana depois, foram encontradas novas ossadas. Dessa
vez, havia a especulação de serem ossos de alguma população indígena. Seis indivíduos
jaziam a uma profundidade de dois metros. Indaguei se tratava-se de um cemitério
indígena. “Não”, me respondeu um dos legistas. Na verdade, se tratava de um
outro tipo de chacina, essa, com uns cem anos.
OS POSSESSOS (Conto de terror)
O
crime terrível serviu apenas como desculpa para aumentar ainda mais a
intolerância contra as
religiões de origem africana. Em um terreiro de umbanda,
uma criança foi degolada por um pai de santo e o homem ainda tentou beber seu
sangue. Embora em sua origem, a umbanda não sacrificasse animais, esse terreiro
era um dos que recorria a essa pratica. Mas nada que fosse fora do normal. Em
muitos outros lugares isso ocorria. Eram sacrificados animais de pequeno e
médio porte: em sua maioria aves e caprinos. Nessa noite, após o sacrifício de
um bode, o homem se voltou para a criança, cortou seu pescoço e tentou beber
seu sangue. O fieis que estavam no culto, o detiveram e chamaram a polícia. Disseram
que o homem estava possuído por uma entidade estranha, desconhecida de todos e não
puderam entender o que acontecera. Vários membros de religião de matriz
africana se manifestaram contra o ocorrido. Reiteraram que a umbanda era uma
religião de paz e que o fato ocorrido nada tinha a ver com o rito comum da sua
crença. Todas as pessoas razoáveis concordaram que se tratava de um caso
isolado. Um pastor que atuava numa igreja no mesmo bairro do terreiro, tratou
de combater o ímpeto de seus fiéis que estavam pregando que aquele tipo de
religião cultuava o demônio. Todavia, não eram todos os líderes protestantes
que pensavam assim. Um deles, também localizado nas redondezas, iniciou uma
campanha tão vigorosa de combate às religiões afro-brasileiras, que conseguiu
juntar um séquito de seguidores dispostos a tudo. Não demorou para que os
homens se sentissem no dever de realizar o trabalho de um deus que não tolerava
aquele tipo de religião. Numa noite, o grupo de dez ou doze homens, partiu numa
perua em direção ao terreiro onde o crime acontecera. Havia pouco mais de um
mês do ocorrido. O terreiro voltara a funcionar apenas há uma semana. No bairro
fora feito uma campanha de esclarecimento sobre as peculiaridades das religiões
de origem africana. Auxiliadas por um grupo de valorização da cultura negra e a
escola da comunidade, os religiosos consideraram ter feito um bom trabalho. Mas
então vieram os homens comandado pelo pastor e invadiram o terreiro, iniciando
um terrível quebra-quebra. Os fiéis ficaram petrificados, vendo tamanho ato de
intolerância. Acharam que a violência se restringiria aos móveis e objetos de
culto, mas estavam errados. Logo, os homens do pastor começaram a agredir as
pessoas. Alguns deles lançaram mão de facas e começaram a gritar: “Fora,
demônios! Fora, em nome de Jesus. A violência culminou com a morte de três
umbandistas e só teve fim quando a polícia chegou. Um dos membros do terreiro
que presenciou tudo, disse que o olhar do pastor e seus homens era muito
semelhante ao do pai de santo que assassinou a criança. “Acho que não importa a
religião, o demônio anda solto de um lado para outro disseminando ódio e
morte”, falou o rapaz.sexta-feira, 12 de julho de 2019
MEU VIZINHO (Conto de terror)
Conheci meu vizinho
logo que mudei. Nós tínhamos praticamente a mesma idade: 13 anos. Ele era
um
garoto risonho e inquieto. Um tanto esquisito em atitudes e gestos, algo que
despertava risos e leves advertências. Em outras palavras, meio bobo, diferente
dos outros meninos que começam a pensar em outras coisas. Depois dos dezoito
anos ele tornou-se diferente em outros aspectos e foi quando tudo aconteceu.
Primeiro eu notei que havia uma aura de maturidade em sua mentalidade, apesar
da esquisitice permanente. Aliás, ele passou a ter uma estranheza mais sóbria
e, não sei dizer direito porque, irônica e consciente. Nós nunca tínhamos sido
muito amigos quando mais novos, mas agora a gente conversava com certa
frequência quando eu saia ou voltava para casa. Ele estava sempre na esquina
fumando cigarros, conversando e rindo com quem se dispusesse a gastar um tempo
com ele. Tinha abandonado a faculdade de filosofia há algum tempo e não se
importava muito com estudo e trabalho. Seu passatempo e única ocupação na vida
era conversar e, a mim, fazer perguntas e suposições capciosas sobre o sentido
da sociedade, das atitudes humanas e da vida em si. – Decidi fazer da minha vida
um modelo – disse ele sorridente. – Um modelo de como se deve viver? – perguntei
já sabendo de suas pretensões. – Não. Um modelo que não é modelo de nada –
disse. Fiquei em silêncio vendo-o acender mais um cigarro. – Essa consciência
não é nada... Só um efeito colateral dessa combinação estúpida de carbono que
resultou na matéria vida... Disso ainda veio uma moral estúpida e vazia em que
eu pretendo cuspir, mesmo com essa preguiça imensa – concluiu ele e ficou
fumando. A nossa conversa tinha chegada um ponto bem interessante. Ele, segundo
suas próprias palavras, tinha atingido um niilismo militante em que, apesar de
negar os propósitos da vida, se sentia imbuído de uma missão. Contou que no
primeiro momento negou isso, se sentindo um messias palhaço e embusteiro, mas
depois de muito tempo não conseguiu tirar isso da cabeça. No entanto, nunca me
dizia qual era seu objetivo. Pelo menos não de uma maneira clara. Meu vizinho
passou um tempo criticando aspectos superficiais da nossa sociedade e agora se
empenhava em atacar à existência humana, descrevendo-a como uma febre. Até aí
nada de novo. Embora cursasse faculdade de história, não filosofia como ele
fizera, eu estava ciente de vários sistemas filosóficos e não via nada de novo
em seu discurso. Ainda assim era interessante ouvi-lo. Muito mais quando falava
dos aspectos humanos de maneira tão pessimista que fariam o filósofo Nietzsche
corar. Meu vizinho passou a defender a loucura e intensas experiências extremas
mesmo que estas resultassem em morte e ferimento. Numa tarde descreveu todas as
experiências sexuais estranhas a que se submetera e disse que qualquer pessoa
seria capaz de praticar qualquer coisa, bastava uma permissão física chancelada
pela mente. Sugeriu que todo mundo poderia ser depravado e perverso sexualmente.
Especulou sobre ter alguma forma de esquizofrenia e que isso era bom, já que o
fazia ver além. Disse que desejava ter câncer para saber como eram as dores e
que só em dúvida sobre que tipo de morte lhe traria melhor experiência. -–Já
pensou cair em um vulcão ativo? Que morte! – falou uma vez. – E numa explosão
nuclear? O bom seria saber que outros seres humanos também seriam vaporizados
nesse momento. – Mencionava essas coisas animado. Mas não tanto quanto passou a
falar de assassinos. Sua incrível memória absorveu em detalhes as histórias de
vida de todos assassinos em série famosos. Descrevia-os psicologicamente de
maneira minuciosas assim como seus terríveis crimes. Ainda assim me surpreendi
quando, num dia pela manhã, saí de casa e me surpreendi com a polícia
conduzindo-o algemado. – Se acordar de madrugada, não encare o relógio e nem o
espelho... Foi assim que tudo começou pra mim – ele informou sorrindo. Depois
soubemos que ele tinha assassinado três pessoas.
terça-feira, 9 de julho de 2019
A VILA (Conto de terror)
Quando deixei minha cidade para morar na capital e cursar medicina, eu me achei ainda mais sortudo por
conseguir um lugar barato e perto da faculdade. Apesar dos meus pais terem condições de sobra de me sustentarem, era bom fazer economia. Era bom também acordar pela manhã e estar há poucos minutos do hospital universitário. Além de tudo, eu adorava o bairro da faculdade. Um bairro antigo com casas suntuosas que me proporcionava um raro sentimento de nostalgia. Eu ficava perdido em pensamentos quando parava e me detinha olhando para aquelas residências – muitas convertidas em albergues para estudantes – imaginando quantas vidas e rotinas tinham passado por ali ao longo dos anos. Tantos estudantes, agora grandes profissionais, muitos famosos, atuando pelo mundo e, claro, alguns já mortos. Eu sentia uma satisfação imensa em saber que ali fora o berço de incontáveis médicos, dentistas e psicólogos. Agora eu também faria parte daquela história e aquele lugar também estaria comigo para sempre. Por toda parte, uma juventude fervilhante de alunos indo e vindo entre os departamentos estudantis. Familiares de pacientes entrando e saindo do hospital. Era um bairro absolutamente movimentado durante o dia, mas à noite, tudo mudava. As ruas e o entorno da faculdade se tornavam extremamente silenciosas e vazias. O que estranhamente me lembrava o clima do filme Linha mortal com Kiefer Sutherland, Kevin Bacon e Julia Roberts. Mas havia outra coisa que me chamava atenção. Algo que destoava das outras moradias para estudantes. A vila onde eu vivia, embora fosse destinada a estudantes, tinha poucos deles. A maioria eram pessoas mais velhas que passavam por mim cabisbaixas. E depois de um tempo, percebi outra coisa: que na vila em que eu morava, pairava sempre uma tristeza e um sentimento de pesar inconfundível. Disse várias vezes a mim mesmo que era impressão minha, porém, cada vez mais a melancolia se confirmava. Às vezes eu acordava no meio da noite e ouvia alguém chorando. Também ouvia passos apressados, incompatíveis com o horário e o hábito daquelas pessoas. Nesse momento eu sentia a mais negra melancolia e pensamentos terríveis se apoderavam do meu ser. Naquele momento, a felicidade de ser jovem e estar realizando sonhos se desfazia e só o que me dominavam eram sentimentos de tristezas e maus presságios. Vinha em mim a certeza de que algum dos meus familiares estava doente ou sofrera um acidente. Eu ligava para minha mãe no meio da noite, perguntando se estava tudo bem. Pela manhã, se desfaziam aqueles sentimentos de angustia e maus presságios. Todavia, a noite tudo retornava. E cada vez ficava maior. Havia ocasiões em que eu não dormia, ouvindo o pranto vizinho, sentindo o pavor se multiplicar. Algo notável também, foi a frequência em que as pessoas se mudavam daquela vila. Eu estava ali há apenas um mês e percebia que pessoas tinham vindo ali e morado uma semana ou apenas alguns dias. Eu nunca fora uma pessoa supersticiosa, no entanto, eu sabia que havia algo de ruim ali, algo de terrível que transcendia ao senso comum. Uma noite eu acordei, perturbado como sempre e não pude evitar de me encolher súbito na cama. Diante de mim, recortado pelas primeiras luzes da manhã, estava a silhueta de um homem. Ele pareceu levar o dedo indicador aos lábios, num gesto de quem pede silêncio. Desapareceu em seguida. E eu fiquei paralisado, por vários minutos no meu canto. Temendo que a aparição voltasse ou algo ainda pior acontecesse. Quando o dia clareou definitivamente, liguei para os meus pais. Tinha tomado uma decisão. Entrei em contato com o proprietário do imóvel e rescindi o contrato. Dois dias depois eu estava em outra residência para estudantes. Um pouco mais cara, mais afastada da faculdade, porém confortável e animada dia e noite. Após uma semana, numa conversa com amigos sobre a antiga moradia, um deles, um estudante de odontologia me contou o que tinha ouvido falar da minha moradia. Um conhecido seu, descobrira que o terreno em que se encontrava a vila, antes fora a residência de um velho patriarca rico. O homem tivera cinco filhos biológicos, mas também adotara mais dez crianças. Depois foi descoberto que ele abusava física e sexualmente tanto dos filhos legítimos, quanto dos filhos adotados. Duas dessas crianças tinham desaparecido. Depois do escândalo que chocou a cidade na época, a polícia descobriu os corpos das duas crianças enterradas no quintal. No bairro, os mais antigos que conheciam a história, não gostavam de lembrar do fato. Talvez por isso quase ninguém sabia do porquê aquele lugar ser funesto e morbidamente melancólico.
sexta-feira, 5 de julho de 2019
TEATRO NA ESCOLA (Peça de teatro)
12 excelentes esquetes teatrais selecionadas para montagem na escola ou grupos teatrais. Ideal para o professor, diretor ou ator que busca um texto dinâmico e pronto para ser encenado. Desenvolvi esse material trabalhando como professor e instrutor de teatro, e sobretudo me dedicando à escrita teatral. Tenho certeza de que são textos adequados para, tanto os que estão iniciando, quanto para os que tem um grupo consolidado. BAIXE GRÁTIS...
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quinta-feira, 4 de julho de 2019
COLHEITA DOS MORTOS (Conto de terror)
Se
alguém perguntasse a Joaquim qual o seu trabalho, ele certamente hesitaria
antes de qualquer
resposta. O homem era um misto de secretário, guarda-costas,
assecla, conselheiro, porta voz e pistoleiro de Alexandre Matias do Carmo,
fazendeiro célebre, ex vereador, ex deputado e líder político de uma importante
região de produção de cana de açúcar do sertão brasileiro que incluía dois
estados. Por fim, provavelmente, Joaquim se denominaria como assistente do Dr.
Alexandre. Mas obviamente isso poderia variar. Dependendo de quem perguntasse.
Uma coisa era certa, tinha dedicado sua vida ao caudilho, sacrificando sua vida
pessoal, tempo e outras coisas. Começou a fazer parte do seu séquito quando era
praticamente um adolescente. Cresceu ao lado do homem que vinha de uma família
tradicional e poderosa, vendo-o também crescer em poder e popularidade. Obviamente
que também viu aumentar disputas e rivais. As lutas se travaram tanto no campo
político quanto em outros. Tiros e facadas nos desafetos e covas rasas para os
trabalhadores baderneiros que ousassem qualquer questionamento quanto às
condições de trabalho. Dr. Alexandre teve seu auge e consolidara o poder, mas
não fora apto em deixar herdeiros políticos e manter a força nesses novos
tempos. Seu partido enfraquecera, ele perdeu dinheiro, prestígio e com
dificuldade resistiu às investidas da justiça. Fora acusado tanto de corrupção
quanto de crimes de pistolagem. Além do mais, a velhice o arrastava para o
caminho sem volta.. Nenhuma glória do passado ou o que ainda possuía o
consolava diante da própria mortalidade. Isso o exasperava e o fazia suspeitar
de inimigos imaginários. E era sobre isso que Joaquim pensava enquanto
aguardava o chefe. Ele tinha recebido a ordem de ir encontra-lo na casa da
Fazenda Velha. Assim denominada por ter sido a propriedade onde Dr. Alexandre
tinha nascido. Joaquim que possuía as chaves do imóvel, adentrou à residência e
ficou esperando. Eram duas da tarde e, apesar disso, o clima da casa, mórbido a
qualquer hora, o fazia pensar nas inúmeras histórias assombradas do lugar. Não
bastava ter seus próprios mortos seguindo-o, agora temia ver outros fantasmas.
Joaquim as vezes ficava pensando se em outra vida iria ser confrontado com os
homens que matara. Era estranho e brutal pensar nas pessoas que tinha
assassinado sem que tivesse nada pessoal contra elas. Além disso, chegara a um
ponto na vida em que devia começar a pagar pelo que tinha feito. Pelo menos era
nisso que acreditava. O homem acendeu um cigarro e ficou fumando para ajudar a
passar o tempo. Enquanto isso, pensava no campo atrás da fazenda onde ele e uns
capangas tinham enterrado alguns inimigos. Isso fazia anos. Até mesmo a maioria
de seus auxiliares já tinha partido dessa pra melhor. A aura pesada, no
entanto, permanecia. Alguns trabalhadores já haviam falado de fantasmas novos
rondando a propriedade. As almas dos pais do Dr. Alexandre constituíam
espectros conhecidos que já não causavam mais espanto. Joaquim ouviu barulhos
na porta da frente e o isso o deixou arrepiado. Mesmo assim foi conferir. Na
verdade, era o Dr. Alexandre com sua velha corte de seguranças e apoiadores. O
caudilho olhou para Joaquim de maneira estranha. Começou a falar sem parar
dizendo que se sentia abandonado, pois os seus não viam a maldade e a traição
que o cercava bem de perto. Acendeu um charuto e continuou reclamando até que
uma crise de tosse o interrompeu. Num gesto, chamou todos para a varanda com o
pretexto de tomar ar fresco. Continuou falando de inimigos não detectados pelos
seus próprios homens de confiança, mas que iria tomar providências ele mesmo.
Joaquim percebeu que ninguém sabia do que o chefe falava. Ainda assim
prosseguiu falando e andando. Acabou fazendo com que todos o acompanhassem até o campo
onde anos antes Joaquim enterrara pessoas. Nesse momento o caudilho sacou uma
pistola e ficou falando que só o sangue de um traidor podia lavar a sujeira em
que estavam metendo ele. Os homens recuaram assustados, mas antes que pudessem
perguntar ou contestar, Dr. Alexandre atirou na cabeça de um dos que tinham
vindo com ele. Um jovem político conhecido pela ambição. O caudilho se voltou
para Joaquim e aos gritos mandou que ele desse um fim no corpo e que ensinasse
como fazê-lo aos novatos. Também disse que era uma vergonha que um homem como
ele com tantos anos de experiência não tivesse descoberto o traidor.
Após terminar de enterrar o sujeito,
Joaquim acendeu um cigarro e olhou para os novos ajudantes. Teve a sensação de
que aquilo viria à tona em breve. Viviam novos tempos em que só as brutalidades
políticas mais refinadas tinham espaço. Seu chefe não tinha noção ou não queria
admitir. O telefone tocou, Joaquim atendeu e ficou sabendo que o Dr. Alexandre
tivera um derrame. Ele voltou a olhar paras os homens ali, mas parecia ver
além. Obviamente porque não prestava mais atenção nos capangas, mas nos
fantasmas que começavam a se levantar naquele fim de tarde.
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