domingo, 25 de novembro de 2018

O QUE ACONTECEU COM CARLA FILARDIS? (Conto de terror)


Eu sempre fui fascinado por essas histórias sobrenaturais, acreditava num outro mundo. Devo ter gastado incontáveis horas vendo filmes, lendo livros e vendo documentários sobre o assunto. De Alan Poe à Stephen King, de clássicos como o Bebé de Rosemary ao gore de Jogos mortais. Para mim o terror e o macabro sempre tiveram o encanto desde os tempos de criança. E foi com uma alegria impar que fomos morar naquela casa com fama de mal-assombrada. Eu e minha esposa que, embora não fosse tão entusiasmada como eu, partilhava o gosto por histórias assustadoras. Durante os primeiros dias não notamos nada de anormal na residência, mas com o passar das semanas, começamos a perceber vozes na calada da noite. Eu e minha esposa ficamos bastante excitados e nenhum pouco temerosos. Embora eu soubesse que o sobrenatural tivesse fama de perigoso, para mim, as pessoas só se davam mal nos filmes e livros. Quem na vida real conhecia alguém que morrera vítima de uma alma do outro mundo? Mas eu estava desprezando outros fatores... e disso me arrependeria depois. Então os fenômenos foram se intensificando. Vozes, passos e portas batendo até certas horas da noite. Após isso, o silêncio e mais nada. Eu tinha ido viver ali sabendo dessas coisas, inclusive que um casal que morara ali costumava receber um grupo e fazer invocações e rituais estranhos. Fora isso, nenhum massacre, morte ou coisa mais trágica tiveram lugar na casa. Os barulhos inexplicáveis chegaram até certo ponto, mas nunca nos incomodaram ou trouxeram sustos maiores, mas minha esposa começou a sofrer de depressão. Pelo seu histórico – ela tinha sofrido abuso quando criança – não pensei que tivesse qualquer relação com o lugar. Ela fazia tratamento, o mesmo acompanhamento que fizera anos atrás e pudera se recuperar totalmente. Mas as coisas foram piorando e uma noite – a casa estava estranhamente tranquila -, minha esposa se ergueu de um sono agitado e começou a gritar dizendo que estava encarcerada por espíritos. Achei que a expressão fosse pura manifestação de angustia e delírio, não tendo relação real com as manifestações da minha casa. Mas eu estava errado, hoje tenho a plena consciência que errei desgraçadamente. Minha esposa só piorou e eu tive inclusive que impedir seus ímpetos suicidas. Veio a noite terrível em que após um choro convulsivo, minha mulher começou a gritar numa língua estranha e me olhou com uma expressão de puro ódio. Parecia possuída como nos filmes hollywoodianos mais cheios de clichê que se pode imaginar. Nesse momento a casa toda começou a manifestar um imenso barulho. As vozes, antes ouvidas espaçadas, começaram a se manifestar todas ao mesmo tempo, os passos, como se fosse um batalhão, correndo por todos os cômodos da casa, as portas batendo vigorosamente. Eu gritei pedindo para que parassem com aquilo num apelo desesperado e irracional. Mas algo em mim já dizia que não haveria misericórdia... Minha esposa levantou-se e saiu correndo pela casa. Eu a segui para impedir que se machucasse, mas logo a perdi de vista. Eu a procurei por todos os lugares da casa e jamais a encontrei. Verifiquei portas e janelas e constatei que todas estavam fechadas. Ela até poderia ter saltado por uma das janelas, mas não poderia tê-las deixadas fechadas como estavam. Pelas portas, não havia dúvidas: a da frente e dos fundos estavam devidamente fechadas à chave. Chamei a polícia e eles não deram muito crédito à minha história. Disseram que ela devia ter saído de alguma maneira, talvez até mesmo com minha ajuda. E foi isso. Só isso! Até hoje, após oito longos meses não encontrei pista sobre o paradeiro da minha esposa. Tentei todos os recursos possíveis, de internet à TV e rádio locais. Nada, absolutamente nada sobre onde aquela mulher pode ter ido. Eu revejo aquela cena mil vezes por dia, ela correndo, dobrando um corredor para nunca mais ser vista novamente. Houveram centenas de teorias, inclusive de que eu a tivesse matado, mas nada ficou claro. Abandonei a casa, e isso acabou com minha vida. Agora vivo de favores, me arrastando durante as horas do dia, padecendo nas noites insones com as perguntas: onde está minha mulher? O que aconteceu com ela?

domingo, 18 de novembro de 2018

O AÇOUGUEIRO (Conto de terror)


A pequena cidade ficou consternada com o acontecimento. A mulher e a filha de Isaque, o açougueiro mais conhecido, desapareceram naquela tarde de domingo como se o chão houvesse aberto um buraco e as puxado para as profundezas da terra. Veio a polícia da cidade, depois auxílio de investigadores da capital, mas não descobriram sequer uma pista sólida para seguir. O caso trouxe espanto e pavor. Aquilo não era o tipo de coisa comum numa cidadezinha como Paraíso Alto, embora alguns discordassem. Esse mundo não é mais o mesmo, diziam alguns. Isaque foi inúmeras vezes interrogado. A primeira vez o homem se desfazendo em lágrimas, na segunda e terceira vez parecia frio e distante como se estivesse catatônico. Houve quem falasse de choque pós-traumático, termo quase incompreensível para aquela gente de cidade simples. O impacto do incidente arrefeceu juntamente com as investigações. Pouco a pouco, as coisas voltaram ao normal. E foi justamente nesse tempo, depois de dois meses, que Isaque voltou ao trabalho. Estivera à beira da inanição, passando por todos os tipos de privações financeiras, salvo pela caridade alheia. Sem mais o que fazer, além de aguardar, retornou ao ofício de açougueiro. Na pequena venda ao lado de sua casa, voltou a comercializar suas carnes e frios. Foi nesse mesmo tempo que começou a vender uma linguiça que chamou a atenção dos clientes. Um produto de alta qualidade, de sabor incrível. Linguiça apimentada que agradava a todos e em diversas ocasiões. A procura foi enorme e todos faziam questão de elogiar a mercadoria. Isaque, ainda visivelmente abalado pelo sumiço da mulher e filha, só concordava.       - Mas que linguiça boa, compadre – diziam quase todos os dias no balcão de Isaque. Ao que o açougueiro se limitava a comentar:
            - É nova, apimentada... Muito boa mesma, compadre.
            E foi então que uma conversa estranha se espalhou na cidade. O boato de que a nova linguiça, oriunda do açougue de Isaque, sucesso total, era feita de carne humana. As más línguas começaram a dizer que Isaque havia matado a mulher e a filha, moído e temperado suas carnes para fazer recheio de linguiça. Obviamente houve gente que achou a história absurda, mas muita gente começou a acreditar e espalhar a história. Foi Rodolfo, o conserta tudo da cidade que alertou o vizinho da história que estavam espalhando sobre sua mercadoria. Isaque xingou e chorou, ofendido por tamanho insulto. Jurou esquartejar quem tivesse inventado aquela injuria. Mas os boatos continuaram e logo as pessoas deixaram de fazer suas compras no açougue de Isaque. Acompanhados de Rodolfo, que se prontificou a ajudar o vizinho, a polícia fez buscas no estabelecimento do homem afim de eliminar aquelas suspeitas absurdas. A princípio os homens não sabiam o que o procurar, pois quem entendia de anatomia a ponto de diferenciar pedaços miúdos de carne humana e animal? Mas não demorou para que os homens, mesmo numa busca displicente – na verdade tinha ido ali com a resolução apenas de acabar com aqueles boatos – encontrassem indicações de que ali havia acontecido um crime. Roupas de uma mulher e uma criança, ensanguentadas foram encontradas numa sacola escondidas num canto. Isaque não soube explicar como aquele material estava ali. Mas não demorou para que as coisas ficassem ainda mais complicadas. Um dos policiais achou orelhas humanas, dedos e outros pedaços de carne num saco, congelados no fundo do freezer. O açougueiro foi preso sob gritos e protestos. Rodolfo levou as mãos à cabeça.
            - Pelo amor de Deus, compadre!
            O povo de Paraíso Alto ficou absolutamente chocado com a história. A imprensa do estado fez cobertura do caso que logo foi comparado aos crimes da rua do Arvoredo, caso famoso que teve lugar em Porto Alegre no século XIX. Isaque continuou negando a autoria do crime, mesmo com a comprovação de que roupas, sangue e demais restos humanos eram de sua mulher e filha. Uma manhã o açougueiro foi encontrado morto, enforcado com um curto pedaço de tecido, engenhosamente preço nas grades da cela, numa espécie de garrote onde só foi possível se matar de joelhos, com o corpo devidamente curvado. A polícia forense fez um exame geral nos apetrechos de trabalho de Isaque, mas não encontrou mais vestígios de sangue e carne humana em nenhum outro canto, fato que indicaria que ele não produzira linguiças naquele local, muito menos com carne de pessoas. Rodolfo ficou preocupado com a descoberta, pois achara que as roupas, alguns pedaços do corpo da mulher e da criança seriam suficientes para comprovar a culpa do vizinho. Devia ter levado mais que isso para o estabelecimento de Isaque, o que seria complicado. Pelo menos estava tranquilo. Ele cometera um crime ao qual ninguém suspeitava ser ele o autor, e ainda por cima conseguira colocar a culpa no marido e pai das vítimas, além da história das linguiças, que mesmo desmentido pelas autoridades, continuava como fato na boca do povo.

domingo, 11 de novembro de 2018

SATÂNICOS (Conto de terror)


Começo essa mensagem informando que isso não é uma brincadeira. Talvez você até possa encontrar algumas notícias sobre minha morte ou desaparecimento. Deixo esse escrito como alerta e uma pequena ajuda para aqueles que quiserem desvendar meu assassinato. Meu nome é Felipe Alonso, sou programador e tinha como hobby – nada saudável, hoje reconheço – de chafurdar os abismos da internet. Foi lá que me deparei com um grupo auto denominado O Sábios. Como muitas outras associações obscuras da internet, esse grupo se definia como adoradores de Satã. A peculiaridade deles era a de que suas crenças se baseavam na premissa de que o príncipe das trevas era o ser mais injustiçado do universo. Lúcifer sofrera a punição de um Deus déspota e soberbo. Foi num foro online que travei conhecimento com os praticantes desse culto. A nível de curiosidade mórbida, troquei contatos com um sujeito denominado Demon8. Para ser justo, admito que Demon8 me advertiu em várias ocasiões e perguntou muitas vezes se eu queria mesmo conhecer o grupo. Acreditando que aquilo se tratava de mais uma bravata da deep web, disse que tinha interesse em entrar no grupo. Demon8 falou que  poderia fazer uma iniciação online comigo e um dia promover um encontro com um de seus representantes. Disse-lhe que era uma boa ideia e confesso que digitei isso rindo bastante. Muito interessante saber que os seguidores de Satã tinham uma escola de conversão via internet. Uma coisa aparentemente tosca que tinha outros objetivos. Então meu contato me enviou vários pdfs falando de sua crença. Não tive muita paciência para ler o material completamente, mas em suma eles se diziam membros da religião mais antiga da terra, a única que defendia um ideal de justiça e uma aberta rebeldia contra Deus. Depois de responder a algumas perguntas, das quais não recordo no momento, Demon8 indagou se eu estava preparado para o próximo passo. Perguntei qual seria e ele respondeu que se tratava de cometer um assassinato ritualístico para consolidar meu desejo de entrar na seita. Após disso, sem muita conversa, me mandou um link no que me direcionou a um vídeo. Nesse momento vi que não estava diante de alguém que estivesse apenas brincando. No vídeo, Demon8 assassinava um homem e se lambuzava com seu sangue. Como tive certeza de que o vídeo era real? Simples, a imagem em alta definição mostrava um sujeito que se apresentava como Demon8 e dizia que a seguinte morte era para servir de modelo para mim. Citava meu nome, dados e dizia que era uma exigência que matasse alguém da mesma maneira e gravasse meu crime. Nessa ocasião, passei a noite em claro pensando na loucura em que tinha entrado. Por causa de mim, alguém tinha sido morto. No outro dia, tentei apagar meus rastros na rede fazendo uso dos meus conhecimentos. Um mês depois, quando começava a pensar naquela história como um pesadelo distante, recebi um telefonema em meu celular de Demon8. Naquele mesmo instante joguei fora meu chip. Como não usasse mais nenhuma rede social, passei a receber bilhetes de Demon8. Era inexplicável como eu os achava, algo a tal ponto tão impressionante, que eu achava que aquilo tinha um quê de sobrenatural. Os recados que eu recebi exigiam que eu continuasse com o que tinha me proposto a fazer. Era isso ou uma morte horrível. Cheguei a mudar de apartamento, mas os recados não paravam de chegar. Certa noite, num impulso, liguei para um dos números do bilhete e disse que não ia matar ninguém, que tudo tinha sido um mal-entendido, uma brincadeira estúpida de minha parte e que se não me deixassem em paz ou eu iria colocar a polícia no meio daquela história. O homem do outro lado simplesmente disse que eu não tinha como escapar e que ficasse a vontade de fazer o que eu quisesse, só devia ficar advertido que as consequências estavam por vir. Ontem à noite recebi um ultimato. Eu teria apenas um dia para resolver. A polícia agiu com incredulidade quando eu disse que não tinha mais o link do crime, tudo se fora com a limpeza dos meus rastros. Resolvi fugir. Tomei um ônibus de viagem e depois de uns bons cem quilômetros, desci e me hospedei numa pequena pousada de beira de estrada. No meio da noite, acordei com o telefone tocando. Ao atender apenas ouvi: - Não adianta fugir, nós sabemos onde você está. – Foi então que eu me sentei e escrevi esse relato. Amanhã pretendo fazer cópias deles e continuar na minha fuga, deixando em cada canto essa mensagem.

domingo, 4 de novembro de 2018

DO OUTRO MUNDO (Conto de terror)


Ele não colocava muita fé nessas histórias de almas penadas, mas também não duvidava. Era um caboclo do sertão que não se preocupava muito com as especulações sobre o outro mundo. Mas então algo veio a acontecer que mudaria muita coisa nas suas crenças. Fernando fazia um caminho sagrada sobre seu cavalo nas noites de sexta feira e sábados. Era uma pequena empreitada de poucos quilômetros, mas com caráter extremamente importante: ir ver a noiva. Ia sempre a noitinha, por volta das oito e voltava dez, onze. Era muito querido pela família da noiva e as vezes conversava com o pai da sua amada sobre roça e coisas afins. As vezes a troca de ideias entre futuro genro aproximava da meia noite, então, Seu João se apressava em se despedir do rapaz. Fernando beijava a noite e tomava seu caminho à cavalo. As vezes achava ríspida a resolução do futuro sogro em despacha-lo súbito, quando se aproximava das doze da noite, mas acreditava que isso fosse uma resolução do velho para que a filha não ficasse mal falada na vizinhança como a moça que ficava com o noivo até depois da meia noite. O motivo, no entanto, era outro. Fernando, não dava muita atenção, mas próximo a margem de um pequeno córrego, no caminho para a casa da noiva, havia uma cruz que sinalizava que alguém tinha perdido a vida ali. Diziam que ninguém passava pelo lugar depois da meia noite, pois coisas estranhas aconteciam. Ninguém contava ao rapaz que o motivo da despedida repentina era para que ele evitasse os perigos do sobrenatural nesse ponto, no horário mágico que permitia a intercessão dos mundos. Porém, certa vez, devido a uma conversa empolgada sobre novas máquinas agrícolas, Fernando estava na residência da noiva faltando apenas dez minutos para a meia noite. Seu João, como sempre, temeroso de alma penada tratou de manda-lo embora. Rapaz, já é quase meia, noite, melhor você ir indo, falou se levantando da cadeira de balanço na varanda. Resignado, o rapaz foi beijar a noiva e pegar seu cavalo. Ele só saberia depois, mas a noiva e sua família, a partir do momento em que ele saiu, começaram a rezar para que ele fosse rápido e passasse pela cruz antes que desse a hora das visagens. Fernando, como sempre, seguiu sem pressa. Gastou logo os oito minutos que lhe restavam e chegou à margem do córrego meia noite e dois. Tudo transcorri na mais absoluta normalidade até que o Primoroso, o cavalo de Fernando estacou súbito. Estranho, pensou Fernando, aquilo não era do feitio do animal. Que tinha acontecido? Primoroso virara uma mula teimosa. A princípio, ele adulou o bicho e bateu com os calcanhares de leve nas suas ancas. O cavalo andou mais três metros, ultrapassou o córrego e estancou novamente. Dessa vez, Fernando foi mais severo nos comandos. Falou com o cavalo como costumava fazer e já estava prestes a  xinga-lo quando percebeu duas coisas desconcertantes: um vento frio vindo do nada e uma presença de puro espanto. Foi olhando para trás, mas antes que pudesse completar o ângulo para ver o que tinha atrás de si, viu, pela sua visão periférica um ser escuro. Voltou-se para frente e sentiu todos os pelos do seu corpo ficarem de pé. Seria a alma do caboclo dono daquela cruz ali que ele não dava importância? Fernando voltou a fustigar o animal, queria sair dali o mais rápido possível, mas o cavalo parecia de pedra. Foi então que tudo piorou vertiginosamente. O rapaz sentiu numa espécie de onda de choque quando aquela coisa tocou no seu cavalo... Subiu na garupa do animal. Primoroso relinchou, chegando a erguer a meia altura as patas dianteiras. Houve um momento em que o bicho pareceu relaxar, mas ele apenas puxou o fôlego e começou a dar coices e se movimentar como um cavalo de rodeio. Fernando, sem conseguir olhar para trás, se segurou como pôde e cerrou os dentes entre o terror daquela presença e a vontade de gritar rogos e pedidos de ajuda. Primoroso correu alguns metros, chegou numa clareira e começou a rodopiar. O que quer que estivesse em sua garupa, não o abandonou. Fernando podia sentir a carona indesejada com sua presença de chumbo às costas, forçando as ancas do pobre animal com seu peso do outro mundo. O rapaz começou a rezar, mas isso pareceu não surtir efeito. Quando o cavalo parou de rodopiar, Fernando pensou em desmontar, mas a perspectiva de ficar a pé diante da aparição o enchia do mais puro pavor. Foi então que ele voltou a falar com o animal num misto de comando e cumplicidade. Abraçou o pescoço do bicho e começou a falar em seu ouvido: Vamos sair daqui, meu camarada, vamos... Vai, Primoroso, vai, vai, trote, trote, voltou-se e fez o movimento nas rédeas para que o cavalo trotasse em velocidade média. O animal obedeceu. Caminhou alguns metros com algum esforço, pois a presença continuava na garupa, pesando como carga imensa. Então depois de um longo e desesperado relincho, o cavalo se livrou da carona indesejada. Fernando ouviu bem quando aquela coisa saltou e fez barulho ao pisar no chão. Primoroso aumentou a velocidade e correu bastante trazendo alívio para si e para o seu dono, se afastando da entidade e do seu local sagrado. O animal e seu dono chegaram em casa com as respirações alteradas. Fernando levou Primoroso até seu local de descanso, o abraçou e o beijou agradecendo por tê-lo salvado daquele episódio. Depois caiu pesado na sua cama e dormiu profundamente. No outro dia, a primeira coisa que fez, foi consultar a tia, uma mulher especialista em casos de assombração. Ela disse que o sobrinho fora vítima de uma alma condenada, presa entre os mundos por ter tido uma morte violenta. Evite de passar por esse lugar depois da meia noite, aconselhou a mulher. O rapaz também telefonou para a noiva e, mesmo se sentindo encabulado, contou-lhe toda a história. Ela confirmou o que dissera a tia e confessou ser essa a razão do pai dar por encerrado o encontro deles, pouco antes da meia noite. Fernando sentiu-se aliviado, mas quando foi verificar seu cavalo favorito, companheiro da luta contra fantasmas, teve uma surpresa bastante desagradável. O animal jazia no fundo da cocheira sem vida. Em seu quadril, marcado no pelo claro, estava um desenho escuro no formato dos membros da carona indesejada da noite passada.